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sábado, 19 de março de 2011

Predadores:nova temporada de caça







Às vezes parece que as pessoas que mandam em Hollywood não têm, entre seus hobbies, o de ver filmes. Dá pra dizer muitas coisas sobre Robert Rodriguez, mas de filmes ele certamente gosta, como Predadores (Predators, 2010) comprova.Da premissa à ambientação, tudo no filme produzido por Rodriguez e dirigido por Nimród Antal (Assalto ao Carro BlindadoTemos Vagas) evoca o filme de John McTiernan que deu origem à franquia Predador. A sorte de Rodriguez é que - ao contrário de Bryan Singer, que escolheu homenagear com Superman - O Retorno um filme que não combina com o niilismo de hoje - tudo noPredador de 1987 continua vigente.



A selva seria a mesma, não tivesse mudado de planeta. Na trama, um bando de mercenários é capturado e levado a um planeta para servir de caça. O filme de Antal faz referência ao original pelo menos duas vezes. Uma, irônica, quando as armadilhas feitas por um humano para pegar o alienígena não funcionam. A outra, funcional, para ajudar Adrien Brody, Alice Braga e companhia a entender quem os está caçando.A repetição de situações do filme de 1987 é tamanha que não convém detalhar aqui, para não estragar o clímax do filme. O que vale dizer é que Rodriguez não apenas assistiu bastante a Predador como conhece também o cinema de ação dos anos 80. Ele e Antal pegam o que melhor funciona nessas tramas de horror de sobrevivência e replicam - é o feijão com arroz que Hollywood inexplicavelmente esquece por vezes.
A trilha sonora - com flauta, trombone e harpa, à moda antiga - ajuda a armar no começo um cenário sem pressa, afinal há muitos coadjuvantes a personalizar, e supre a carência de ação. A veia de catarse trash de Rodriguez tenta saltar às vezes (contra-plongée na cara de Danny Trejo dizendo "This is hell") mas se controla. Novamente, como no filme de 1987, é mais importante sinalizar a presença do predador (o rosnado, a mira laser tripla, o modo furtivo invisível, a visão de calor) do que colocar logo de cara as duas raças pra brigar.



As outras criaturas que Antal e Rodriguez desenvolveram para o filme têm participação tímida, em comparação com a glória de design pulp que é o predador. É preciso muito esforço mesmo para errar com ele. Aliás, a veneração ao design do bicho fica latente na primeira cena em que o predador aparece de corpo inteiro - imóvel, acorrentado, para que possamos reconhecer suas escamas, suas pinças, em detalhes. Nesse momento a homenagem se consuma.De resto, o produtor inova, de fato, na escolha de Adrien Brody para ser o Schwarzenegger da vez. Evidentemente, há pelo menos 40 quilos de músculos e um Atlântico de sotaques separando os dois atores. E é esse ruído na nossa expectativa que torna Predadores diferente não só do original como de outros filmes do gênero - mas não muito.



No fundo é uma grande trapaça. O personagem de Brody é, em tudo, muito previsível: encaixa-se no arquétipo do anti-herói que não escolheu ser o líder, vira o rosto na hora certa para soltar suas frases de efeito, respira ofegante no momento decisivo. Só que Adrien Brody tem uma presença de cena tão ímpar, com seu biotipo franzino, que Predadores fica parecendo algo muito novidadeiro.Obviamente, não é uma novidade. Rodriguez conseguiu convencer a 20th Century Fox a bancar a produção nos seus termos - Predadores foi rodado no quintal do cineasta, no Texas, bem longe dos engravatados - e recolocou a franquia no eixo. É uma vitória, sem dúvida, depois do pastiche dos dois AvPs, mas daqui a uns anos a memória do Predador-2010 tende a perder força diante do icônico Predador-1987.

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