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quarta-feira, 16 de março de 2011

Sam Raimi de volta ao terror






Incensado como a volta triunfante de Sam Raimi ao gênero do terror, depois de sete anos dedicados só a Homem-Aranha, Arraste-me para o Inferno (Drag me to Hell, 2009) é também um retorno do cineasta ao básico - que já fica explícito pelo logotipo antigo da Universal antes dos créditos iniciais.Há no filme computação gráfica (talvez até demais, já que algumas situações "molhadas" pediam efeitos práticos), mas o clima é essencialmente insinuado com trucagens de som e luz. O grudento leitmotif - tema sonoro que acompanha um personagem - composto por Christopher Young e executado no violino dá o tom, enquanto efeitos de sombra e vento cuidam de instalar o suspense em certos trechos do filme.



É como se Raimi se desafiasse a jogar com os instrumentos mais elementares do gênero, para ver se não perdeu a mão. A própria trama é bem genérica (o argumento lembra A Maldição do Cigano, de Stephen King) e seus rumos, previsíveis. A gerente de crédito bancário Christine Brown (Alison Lohman) sonha com uma promoção, e quando aparece na sua frente a sinistra Sra. Ganush (Lorna Raver) implorando pela extensão do financiamento de sua casa própria, Christine nega, para impressionar seu chefe, Sr. Jacks (David Paymer). Para seu azar, acaba ganhando da velha alguns beijos babados e uma maldição.Originalmente, Raimi queria Ellen Page para o papel principal, mas Lohman se sai muito bem como scream queen, com sua cara redonda cheia de pavor e sua mão de dedos finos e compridos espalmada diante do perigo. Os movimentos de câmera rápidos e a troca também veloz de planos e contraplanos - marca das cenas de ação de Raimi desde Evil Dead até Rápida e Mortal - mostram que o diretor ainda manda bem nos fundamentos, particularmente no ritmo desses clímaxes.




De certa forma, Arraste-me para o Inferno se resume a esse exercício de estilo. Não é um suspense floreado comoO Dom da Premonição (2000) nem indica novos caminhos para o gênero. Pelo contrário, o receituário gore-mais-comédia permanece o mesmo de 30 anos atrás, e os diálogos seguem deliciosamente cafonas ("Você consegue ser forte?""Eu vou tentar."), assim como algumas ambientações (as palmeiras no fundo do cenário quando tudo parece ter se resolvido são impagáveis).Aliás, Raimi parece tirar sarro das condições mambembes do começo de carreira: há evidentes erros plásticos de continuidade (Lohman ora ensopada, ora seca) e exageros na sonoplastia, como os latidos inseridos no grito da velha bruxa.No fim, o espectador mais saudosista pode ficar com um gosto agridoce na boca ao ver o diretor substituindo os galões de gosma por fluidos de CGI. Em compensação, não dá pra reclamar de alguém que resgata bigornas como objeto de cena. Só assim pra gente lembrar como faz falta um bom humor de bigorna.

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