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sábado, 19 de março de 2011

A Origem de Christopher Nolan






A Origem (Inception, 2010) não é nenhuma esfinge. Na verdade, a sua estrutura, emprestada dos filmes-de-assalto, é bem trivial. Acompanhamos o planejamento de um golpe enquanto se aprende o essencial de cada personagem. Na hora de pôr o golpe em prática, termina o ensaio, começam os imprevistos.Grupos de golpistas costumam ter um novato porque é preciso expor ao espectador as regras do jogo (que os personagens veteranos, obviamente, já conhecem). Em A Origem, a estudante Ariadne (Ellen Page) faz essa função. Ela é a nossa representante na trama, intrigada com a tal máquina de invadir sonhos inventada pelo roteirista e diretor Christopher Nolan. Ironicamente, o totem de Ariadne é um peão de xadrez - ela só serve para ser a intermediária, a intérprete.Como no cinema de Nolan o que importa é o engenho, a maquinação, ele evidentemente se preocupa em deixar as regras claras - antes de Ariadne aparecer em cena, o jogo é explicado a outro novato no meio, o personagem de Ken Watanabe. Pontos de referência no elenco, Joseph Gordon-Levitt e Leonardo DiCaprio se revezam nas explanações. Mais adiante, entra o químico com seu supersedativo, o falsificador com seus disfarces, e todos param para ouvir mais explicações.É como ver um filme baseado em Philip K. Dick com narração da voz do GPS. Essa obsessão de Nolan pela ordem, por tentar organizar um universo de ficção científica cheio de enunciados (bons tempos os de Asimov, em que as leis da robótica eram apenas três), acaba sabotando A Origem de dentro pra fora. Porque quando começa o golpe, e à medida que os golpistas vão mais fundo, as incongruências saltam aos olhos.Não convém aqui listar todos os desvios de lógica que acometem A Origem. Basta a pergunta de Ariadne numa das muitas bifurcações da trama: "NPeraí, no subconsciente de quem estamos entrando mesmo?". Não se envergonhe se você se perder pelo caminho - o que parece complexo pode ser só complicado - já que, afinal, a nossa representante dentro do filme também levou um nó de Nolan.




Assim como em Batman - O Cavaleiro das Trevas, em que muitos lances prescindem de verossimilhança e existem por pura catarse (por exemplo, o Coringa antecipar eventos que seriam impossíveis de calcular, como a bomba plantada na barriga do gordo pra pegar o chinês), A Origem abraça o impacto pelo impacto. Como na cena da escada de Penrose, em que o personagem de Gordon-Levitt solta uma frase de efeito nerd para comemorar a própria esperteza.Christopher Nolan é esperto, disso não há dúvida. No fim das contas, ele acaba embrulhando seu filme-de-assalto no conceito de subsolos de sonhos só para viabilizar um triunfo narrativo: a dilatação do clímax. Se considerarmos que começa e termina com o chute do primeiro sonho, então o clímax de A Origem tem 47 minutos. É o milagre da multiplicação do suspense.Não se deve subestimar a importância da trilha sonora de Hans Zimmer nesse processo. O clímax nos segura por tanto tempo, em boa medida, porque Zimmer mantém o seu tema numa escalada de notas alongadas. Já era um truque que o compositor e o diretor empregaram com O Cavaleiro das Trevas (especialmente na cena da balsa dos condenados) e em A Origem funciona ainda melhor.Mas, como toda trucagem, esta só está à espera de ser desmontada (e parodiada, como já acontece com o filme web afora). Passada a primeira impressão, A Origem tende a depreciar a curto prazo. Enquanto isso, Christopher Nolan se diverte com seu pião - vai todo mundo rever o filme e prestar atenção na aliança ou nas roupas das crianças, só para tentar entender um enigma que muito provavelmente não faz sentido sob qualquer ponto de vista.


TRAILER 1 DE A ORIGEM:



TRAILER 2 DE A ORIGEM:


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